Marcos Duarte circula em territórios onde se conectam atmosfera, ciclos de vida e trilhas que percorrem pastos e são reguladas por cercas. São paisagens persistentes, periféricas, dispersas, sem identidade, erodidas, que repercutem no planeta. Essa paisagem ‘fala’ de sua intimidade – ossos bovinos, testemunhos de tudo o que não se extingue por efeito do tempo, calendário de commodities guiadas por ritos contemporâneos do alimento. Dessa memória cabe buscar registros.
Disse Franz Krajcberg, “essa casca de árvore queimada sou eu” – ele que encontra na superfície dos resíduos a natureza. Resíduos de paisagem se decompõem no tempo, não oferecem sombra, embora fosse possível erguer paredes de ossos em todo o lugar. Recriar e deslocar semelhança e diferença entre vegetal e animal. Vida e morte, alimento e atmosfera. A instabilidade dessas fronteiras insinua movimentos.
Marcos Duarte percorre pastos, sobe e desce morros como o fazem os bois, buscando melhor pastagem. Atravessa vales como se estivesse pastoreando, carrega sacos de ossos. Dispondo daquilo que lhes pertence, que é parte do passado deles. Interações refletem estranheza e curiosidade, ou indignação desses seres remotamente irracionais diante dos ossos expostos onde eles caminham e se alimentam. Tempo de carregar ossos, celebrar estranheza e reencontro percorrendo pastos.
Ana Lucia Camphora