Paisagens Emocionais

“I am not what I am, I am what I do with my hands“…

                                                                              Louise Bourgeois

Em 2013, Maria Fernanda Lucena ingressou na turma do Curso Teoria e Portfólio na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. O curso era, então, ministrado por Efrain Almeida, Marcelo Campos e Brígida Baltar. Naquela época, Maria Fernanda trabalhava com pinturas de grandes dimensões em acrílico. Desde suas primeiras apresentações, a artista já se destacava por sua inquietação, curiosidade e disciplina, além de uma grande capacidade de domínio técnico no fazer pictórico.

Durante o seu processo de pesquisa, vieram algumas mudanças significativas em sua produção. A primeira, substituir a tinta acrílica por óleo; em seguida, a troca de suporte, ela passa, então, a usar, em vez de telas comuns, quadros antigos já pintados e objetos cotidianos, interferindo sobre esses com pinturas, onde o retrato e a paisagem são temas recorrentes. Seus retratados são constituídos, na grande maioria, de entes próximos ou pessoas que ela simplesmente considera biograficamente interessantes. Fernanda mergulha no universo cotidiano destas pessoas, através de seus pertences, de fotos de viagens, de memórias ou objetos casualmente encontrados.

É preciso entender, aqui, que a lógica da apropriação de objetos, no caso de Maria Fernanda, se distancia de uma ação duchampniana dos Readymades. A artista está interessada numa certa lógica etnográfica, histórica, afetiva e simbólica dos objetos apropriados.

Em sua primeira exposição individual na C.galeria, a artista Maria Fernanda Lucena presenteia o público com um corpo de trabalhos, onde conceito, rigor técnico e visualidade são mostrados em perfeita equalização. A tensão entre pinturas, objetos e fotografias cria verdadeiras “Paisagens Emocionais“. Enigmáticas imagens transtemporais apresentam-se numa vertiginosa sucessão de planos reais e virtuais, dispostos diante do espectador.

Efrain Almeida

Novembro 2016