Depois de uma grande explosão recebemos uma onda de choque que nos derrubou e ficamos temporariamente cegas pelo seu brilho intenso. Nos momentos que se seguem, conforme recobramos consciência, olhamos pro lado e vemos os destroços nossos e nossas se arrastando para fora. Esse cenário me parece extremamente similar ao que estou vivendo e escrevendo.
Como pensar um trabalho, um texto ou ainda uma feira de arte em meio ao apocalipse? E o apocalipse se torna evidente no meio da pandemia do coronavírus mas estes acontecem diariamente e exterminam corpas, vidas, sabedorias, florestas, povos, nações. No entanto, hoje, aqui e agora chegamos um ponto após tantos ataques sucessivos que rachamos e uma vez fragmentadas, nos vemos à deriva, ilhas perdidas na vastidão com pouco ou nenhum contato entre nós.
Artistas aparecem assim não como ilhas, mas como correntes dentro dos oceanos. Nutrem a vida umas das outras, trocam temperaturas e diferentes densidades, garantindo a sobrevivência das ilhas que nos tornamos. Sem movimento, não há vida e em seu movimento acerca de si e de sua origem, as artistas continuamente levam e trazem informações, aquecendo e fertilizando nossas imaginações com nutrientes sem os quais toda arte, ou toda vida no cistema, seria impossível.
Porque então as encorajamos a disputar sobre si e reduzindo-os a serem hidrelétricas para alimentar o mesmo cistema que nos fragmentou? Como mensurar a grandeza de um rio ou a pesquisa de uma artista? Não me parece coincidência (na verdade nada é) que todas as artistas aqui atuem no campo da educação. Por isso aqui quis falar mais de seus movimentos do que de sua matéria. Para percebermos que ainda que um rio seja poderoso ele não se equipara ao oceano. E o que seria o oceano senão todos os rios juntos?
Texto de Agrippina R. Manhattan