Andrea Brown, Bruno Belo, Maria Fernanda Lucena, Vitor Mizael

À Deriva do Olhar

12/07/2017

À deriva:
Sem rumo, sem direção certa; desgarrado, extraviado: a vida é como um barco à deriva que muda de rumo ao sabor dos ventos.
Figurado –
 Sem ajuda, de maneira desgovernada; ao acaso: depois que você saiu, fiquei à deriva.

 

Ao debruçar por uma janela que já conhecemos a paisagem, descansamos nosso olhar nas camadas que ali sempre existiram, mas que nem sempre notamos. Nietzsche disse certa vez que “a primeira tarefa da educação é ensinar a ver”.Ver educa o admirar. A coletiva “À deriva do olhar” conta exatamente como o apreciar pode ter diversas camadas e histórias que nos esquecemos por cotidiano pouco reflexivo ou por saber que tudo sempre esteve ali, mas nunca apuramos o nosso olhar para entender o além.

Maria Fernanda Lucena fala por lembranças; conta em suas camadas e pinceladas todas as reminiscências de várias porém poucas histórias. Um frasco de perfume, um vestido de noiva, um bom dia de onda no mar, o figurado aroma de estar vivo e ser grato por isso.

Bruno Belo trabalha com o descarrilamento cinematográfico e a reconstrução a partir da reorganização desses frames. Das lembranças –quase todas em preto e branco- surgem os detalhes pictóricos que tomam conta de toda atenção: as cores que remetem ao apego e ao alvitre.

Andrea Brown conta sobre as divisões afetivas de um lar e de suas permanências. Como a composição de com cogobó com ferro forjado e cimento expedem a construção efetiva, uma fotografia remete a sensação de morada e a distância próxima entre essas camadas e sua composição caçoam com o olhar do espectador.

Vitor Mizael flerta com a desconstrução do olhar. Seguindo os conceitos do belo como ordem, simetria e proporção; ele traz a doçura grotesca com os desenhos de grafite em objetos escultóricos feitos de madeira. A primeira vista o que poderia ser um desenho de alguma expedição oitocentista apresenta no segundo plano deformações para que a composição seja, de certa maneira, harmônica e interessante ao espectador.

Quando saímos da janela percebemos o quanto vimos e deixamos de ver. Entendemos que somos apenas testemunhas de um mundo onde a visão se completa com a memória. Fechar os olhos nesse momento significa relembrar mais as sensações desse breve momento do que o que estabelecemos no visualizar; constituímos uma relação entre toda paisagem e o espectador. As camadas de uma história são tão somente a testemunha de tudo que vivemos e é por isso que estamos eternamente à deriva do olhar.

Luiz Otávio Zampar


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